sexta-feira, 24 de maio de 2013

Cafés Especiais x Cafés Industriais


Barista Otávio Linhares


Já parou pra pensar sobre essas embalagens que estão invadindo as gôndolas dos supermercados e pulando em novas casas especializadas, cheias de símbolos e certificados, como se fossem figurinhas de um álbum cujo significado para a maioria não significa nada?
Quando estou dando palestras e workshops para clientes, a pergunta que faço é: o que passa na sua cabeça quando você para na frente da prateleira e vê aquelas novas embalagens (e as velhas também) cheias de certificados e símbolos interessantes falando sobre a qualidade do café?
Claro que o riso é geral. Poucas pessoas conseguem pegar uma embalagem de café e traduzi-la ao pé da letra e, assim, não conseguem evitar levar pra casa um café de baixa qualidade.
Há no mercado, hoje, basicamente dois tipos de cafés muito distintos entre si por causa de suas certificações: cafés especiais e cafés industriais.
Os cafés especiais, de qualidade infinitamente superior, são cafés que passaram por um rigoroso controle de qualidade que avalia desde a cor e o tamanho, até o sabor em seus mais complexos detalhes percebidos pelos aromas e pelos sabores.
O órgão que regulamenta a certificação de cafés especiais no Brasil é a BSCA (Brazil Specialty Coffee Association, www.bsca.com.br), e ela tem como premissa colocar um café numa avaliação para que, caso ele supere a marca dos 80 pontos (e isso significa que ele tem aspectos sensoriais superiores aos da indústria), certificá-lo como sendo de qualidade superior e, dar a ele um selo com a logomarca do órgão.

                                


Portanto, comprar um café com estes selos, garante, em princípio, que o seu café não terá aquele gosto residual amargo que fica no fundo da língua e que te faz mascar um chiclete, ou então, virar meio litro de água para se livrar daquele aspecto que se instala na língua após tomar um café ruim.
Um café deve ter gosto de café! Só isso!
Mas a pergunta que fica é: e o brasileiro sabe qual é o gosto de um bom café?
É óbvio que a maioria sem treino não vai perceber as tais notas aromáticas, nem aquela enfadonha lista de coisas que podem ser encontradas em uma xícara de café, mas a esmagadora maioria sabe reconhecer o que lhe agrada, ou seja, posso não saber o que significa, mas sei que é bom, não é mesmo?
A certificação da BSCA não é a única. Há no mercado de cafés especiais uma lista com dezenas de empresas no mundo que fazem esse trabalho de certificação de produtos agrícolas, não só no sentido sensorial, mas também social, como por exemplo, o IBD, a Rain Forest, a UTZ Kapeh, e por aí vai.
Um bom café deve ter uma doçura que lhe é natural (e não as 5 gramas do sachezinho de açúcar ),  uma doçura que seja percebida na língua logo na entrada do café na boca e logo após na salivação.
Deve ter uma acidez de fruta agradável, um aroma que preencha a casa e nos faça suspirar.
Há muito caminho para percorrer em direção a um desnivelamento das coisas no mundo do café.
É um caminho longo, mas vale a pena. A satisfação de tomar um bom café de manhã, com a família, com os amigos, ou numa cafeteria especializada, não tem preço.
No próximo post falarei sobre as certificações da indústria detalhando passo-a-passo o glossário de uma embalagem de café industrial.
Vale a pena entrar no site que está no meio do texto. Lá você vai encontrar um mundo de coisas novas que vão lhe ajudar a pegar a embalagem mais apropriada no supermercado, ou na loja especializada.

Dúvidas? otavio@rausecafe.com.br

Otavio Linhares é Consultor de Cafés Especiais e Barista. Já conquistou vários títulos dentre eles Campeão Brasileiro de Baristas, foi ranqueado do Campeonato Mundial de Berna-Suíça e Bi-Campeão Sul-Brasileiro.
Até hoje já formou milhares de baristas no Brasil e na Colômbia e trabalha com Consultoria Técnica e Treinamento de Baristas na Rause Café e Vinho.

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