Barista Otávio Linhares
Já parou pra pensar sobre essas
embalagens que estão invadindo as gôndolas dos supermercados e pulando em novas
casas especializadas, cheias de símbolos e certificados, como se fossem
figurinhas de um álbum cujo significado para a maioria não significa nada?
Quando estou dando palestras e
workshops para clientes, a pergunta que faço é: o que passa na sua cabeça
quando você para na frente da prateleira e vê aquelas novas embalagens (e as
velhas também) cheias de certificados e símbolos interessantes falando sobre a
qualidade do café?
Claro que o riso é geral. Poucas
pessoas conseguem pegar uma embalagem de café e traduzi-la ao pé da letra e,
assim, não conseguem evitar levar pra casa um café de baixa qualidade.
Há no mercado, hoje, basicamente
dois tipos de cafés muito distintos entre si por causa de suas certificações:
cafés especiais e cafés industriais.
Os cafés especiais, de qualidade
infinitamente superior, são cafés que passaram por um rigoroso controle de
qualidade que avalia desde a cor e o tamanho, até o sabor em seus mais
complexos detalhes percebidos pelos aromas e pelos sabores.
O órgão que
regulamenta a certificação de cafés especiais no Brasil é a BSCA (Brazil
Specialty Coffee Association, www.bsca.com.br), e ela tem como premissa colocar
um café numa avaliação para que, caso ele supere a marca dos 80 pontos (e isso
significa que ele tem aspectos sensoriais superiores aos da indústria),
certificá-lo como sendo de qualidade superior e, dar a ele um selo com a logomarca
do órgão.
Portanto, comprar um café com
estes selos, garante, em princípio, que o seu café não terá aquele gosto
residual amargo que fica no fundo da língua e que te faz mascar um chiclete, ou
então, virar meio litro de água para se livrar daquele aspecto que se instala
na língua após tomar um café ruim.
Um café deve ter gosto de café! Só
isso!
Mas a pergunta que fica é: e o
brasileiro sabe qual é o gosto de um bom café?
É óbvio que a maioria sem treino
não vai perceber as tais notas aromáticas, nem aquela enfadonha lista de coisas
que podem ser encontradas em uma xícara de café, mas a esmagadora maioria sabe
reconhecer o que lhe agrada, ou seja, posso não saber o que significa, mas sei
que é bom, não é mesmo?
A certificação da BSCA não é a
única. Há no mercado de cafés especiais uma lista com dezenas de empresas no
mundo que fazem esse trabalho de certificação de produtos agrícolas, não só no
sentido sensorial, mas também social, como por exemplo, o IBD, a Rain Forest, a
UTZ Kapeh, e por aí vai.
Um bom café deve ter uma doçura que
lhe é natural (e não as 5 gramas do sachezinho de açúcar ), uma doçura
que seja percebida na língua logo na entrada do café na boca e logo após na
salivação.
Deve ter uma acidez de fruta agradável, um aroma que preencha a casa
e nos faça suspirar.
Há muito caminho para percorrer
em direção a um desnivelamento das coisas no mundo do café.
É um caminho longo, mas vale a
pena. A satisfação de tomar um bom café de manhã, com a família, com os amigos,
ou numa cafeteria especializada, não tem preço.
No próximo post falarei sobre as
certificações da indústria detalhando passo-a-passo o glossário de uma
embalagem de café industrial.
Vale a pena entrar no site que
está no meio do texto. Lá você vai encontrar um mundo de coisas novas que vão
lhe ajudar a pegar a embalagem mais apropriada no supermercado, ou na loja
especializada.
Dúvidas? otavio@rausecafe.com.br
Otavio Linhares é Consultor de Cafés Especiais e Barista. Já conquistou vários títulos dentre eles Campeão Brasileiro de Baristas, foi ranqueado do Campeonato Mundial de Berna-Suíça e Bi-Campeão Sul-Brasileiro.
Até hoje já formou milhares de baristas no Brasil e na Colômbia e trabalha com Consultoria Técnica e Treinamento de Baristas na Rause Café e Vinho.
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