sábado, 16 de novembro de 2013

Into the Wild, a cerveja que te faz lembrar do filme!

PRAZERES DA CERVEJA

Por Rodrigo Addor

Durante o feriado de Finados organizei uma viagem de 5 dias para Madrid e Paris. Em Madrid, consegui passar rapidamente pelo bar de cervejas artesanais Irreale, o qual conheci por sorte ano passado, caminhando pelos becos da região de Plaza Mayor. Desta vez, o bar estava mais robusto, com nove bicos de chope e muita cerveja regional. No entanto o que me conquistou mesmo foi uma cerveja que eu bebi em Paris.

Ao chegar na cidade, pesquisei quais os melhores lugares de cervejas artesanais. Achei alguns, mas como a viagem estava corrida, só consegui passar no Brewberry, o que por si só é um bar pequenino, com 4 ou 5 mesas, e um pequeno distribuidor no subsolo com barris e engradados. As opções de cervejas geladas eram poucas, algo em torno de 15 ou 20 garrafas. No entanto, o estoque deles era sensacional, e você poderia pedir para a garçonete colocar uma cerveja quente para gelar enquanto você estava bebendo outra. Não é o melhor jeito de se gelar uma cerveja, mas era uma boa opção para o momento. E foi lá que eu achei a menina dos olhos, uma cerveja interessantíssima e que me deixou muito curioso. O conjunto inteiro era bem bolado. Um rótulo simples, que ia direto ao assunto, com nome e desenho que remetiam diretamente ao processo de fabricação, e traziam um quê de Fugere Urbem, lembrando do livro/filme (Na Natureza Selvagem) que achei sensacional. Assim, comprei a cerveja, fui pro hotel e coloquei-a pra gelar do lado de fora da janela do quarto, já que frigobar em hotel em Paris é luxo e estava fazendo uns 10੦C lá fora.



O que achei muito interessante na fabricação foi a cervejaria usar somente bretanomices (ou brettanomyces) na fermentação e fugir dos estilos que tradicionalmente utilizam esse processo, como Lambics, Saisons e Geuzes, e apostar em uma Witbier fermentada com o maior vilão dos produtores de vinho. Isso porque as bretanomices, ao fermentarem os açucares (tanto da cerveja quanto do vinho) liberam compostos que deixam a bebida com um caráter ácido, azedo, com aromas de queijo velho, couro e, porque não dizer, curral. Assim, produtores de Lambics e Geuze carregam a cerveja de frutas vermelhas (como morango, cereja e outros berries) ou outros adjuntos para amenizar os fortes aromas e sabores. O que essa cervejaria fez foi usar este mesmo fermento em uma Witbier, cerveja mais leve e refrescante que normalmente leva em sua receita laranja e coentro, estilo da famosa Hoegaarden. E o resultado foi surpreendente! Uma cerveja leve, refrescante e muito fácil de beber! Claro, os aromas de queijo velho e couro estavam lá, mas estavam bem inseridos na cerveja, não existia adstringência nem azedo. Acho muito bom quando experiências ousadas dão certo, é daí que saem os produtos mais interessantes.

Rodrigo Addor é economista, Sommelier de Cervejas pelo SENAC/Doemens Akademie, de Munique, e reside atualmente em Berlim, onde fará o curso de Mestre-Cervejeiro na Versuchs-und Lehranstalt für Brauerei. Também foi criador e sócio do clube de assinaturas de cerveja Prova Essa, onde ficou até Janeiro de 2013.



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