sábado, 19 de outubro de 2013

Da Rússia ao Brasil

PRAZERES DA CERVEJA

Por Rodrigo Addor

InícioUm dia desses, ainda na tentativa de conhecer a minha nova cidade, saí para jantar no restaurante russo Matreshka e lá acabei pedindo uma Baltika Lager (provavelmente a Exportação, pelos 5,4% de álcool indicados no menu) no chope, ou Fass, em alemão. 
Confesso que fiquei um pouco apreensivo ao pedir a cerveja, pois a minha experiência com as Baltikas no Brasil não havia sido muito positiva. E qual a minha surpresa quando me deparo com uma cerveja deliciosa, com um ótimo equilíbrio entre doce e amargo, uma lager com um aroma sutil e encaixado do lúpulo, um doce leve inicial seguido por um amargo seco no final, bem leve e com baixa duração.
Como não havia tido essa impressão no Brasil? Muitas vezes o trânsito das cervejas deteriora a qualidade do produto. Meses batendo de um lado para o outro no navio, seguido de meses na alfândega no sol de 50० durante o dia podem estragar qualquer cerveja. Conversei uma vez com o mestre-cervejeiro e dono da americana Flying Dog e ele me disse - além de motivos obscuros que não cabem aqui - que desistiu do Brasil pelos nossos problemas logísticos e pelo fato das cervejas atravessarem o equador de navio. Fez a comparação com a Europa, para a qual os navios passam pelo Atlântico norte, sempre mares gelados e temperaturas mais amenas. 

Claro que todos temos curiosidade de provar uma Duvel Tripel Hop, - até porque a desse ano está tão maravilhosa com seu dry-hopping de lúpulos Saaz-Saaz, Styrian Golding e o famigerado Sorachi Ace (que pra mim tem aroma fortíssimo de pickles) que todo mundo comenta - ou alguma raridade levada para a nossa terrinha em alguma edição limitada como a Brooklyn Black Ops, mas é importante entender que alguns defeitos encontrados vêm diretamente da pedregosa viagem que as cervejas enfrentam desde o ponto de origem até seu destino final, sua casa ou seu bar favorito. Ou seja, a Baltika em barril que eu bebi aqui em Berlim enfrenta uma viagem muito mais tranquila do que a Baltika bebida no Brasil, sendo muito mais fresca e menos propensa a ter defeitos. 

Os estadunidenses possuem um forte regionalismo, inclusive para suas cervejas. Vá para qualquer bar ou pub em Nova York e veja se você não encontra uma torneira de Brooklyn Lager. Ela está lá. Em qualquer bar. Eles prezam muito pela cerveja feita perto de casa, mais fresca e saborosa. 
Então, que tal da próxima vez que você for no bar, pedir uma cerveja de um cervejeiro local? Você estará incentivando um produtor nacional que batalha para produzir uma cerveja de alta qualidade, além de estar bebendo um produto mais fresco e saboroso!

P.S.: Eu percebi, vendo algumas fotos de Baltikas, que elas são envasadas em garrafas verdes ou transparentes. Quem sabe ainda não faço um texto sobre o Efeito Heineken?!


Rodrigo Addor é economista, Sommelier de Cervejas pelo SENAC/Doemens Akademie, de Munique, e reside atualmente em Berlim, onde fará o curso de Mestre-Cervejeiro na Versuchs-und Lehranstalt für Brauerei. Também foi criador e sócio do clube de assinaturas de cerveja Prova Essa, onde ficou até Janeiro de 2013.

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